O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na quarta-feira (15) que autorizou operações secretas da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) na Venezuela e disse estudar ataques terrestres contra cartéis de drogas. O movimento representa mais uma ação do governo norte-americano contra o regime de Nicolás Maduro.
Desde setembro, autoridades da Casa Branca ouvidas pela imprensa norte-americana vêm afirmando que os EUA estudavam a possibilidade de um ataque contra a Venezuela. Segundo o jornal “The New York Times”, o objetivo final de toda essa movimentação seria tirar Maduro do poder.
O que até então circulava apenas nos bastidores — e era tratado como hipótese por especialistas — começou a ganhar traços de realidade durante uma entrevista coletiva do presidente na Casa Branca, nesta terça-feira (14).
Trump não quis responder se agentes de inteligência receberam autorização para matar Maduro. Por outro lado, o “New York Times” afirmou que “operações letais” também estão no radar e que as ações secretas podem mirar o líder venezuelano e seu governo.
Segundo o jornal, não está claro se a CIA já tem um plano traçado, se as operações de fato ocorrerão ou quando serão colocadas em prática. O que se sabe, até o momento, é que Trump autorizou que a agência aja contra a Venezuela por questões de segurança nacional.
Imagem mostra o presidente dos EUA, Donald Trump (E), em Washington, DC, em 9 de julho de 2025, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro (D), em Caracas, em 31 de julho de 2024. — Foto: AFP/Jim Watson
Maurício Santoro, doutor em Ciência Política pelo Iuperj e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, acredita que os movimentos dos EUA são, provavelmente, uma ação político-militar para tentar derrubar o governo de Nicolás Maduro.
Especialistas apontam que o acesso ao petróleo e às riquezas minerais da Venezuela também estaria no radar. Dados do Relatório Mundial de Energia de 2025 indicam que a Venezuela continua sendo o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, com 302,3 bilhões de barris.
🔍 Santoro destaca que o aumento da concentração de tropas americanas no Caribe e o anúncio envolvendo a CIA indicam que os EUA podem estar se preparando para uma grande operação militar na Venezuela. Ele levanta algumas possibilidades, como:
“O que os americanos estão planejando ainda não está claro, mas, sem dúvida, estamos na iminência de um ataque de larga escala. E, se isso acontecer, será a primeira vez que os Estados Unidos atacam militarmente um país da América do Sul.”
Embora a movimentação militar seja grande, Santoro acredita que ela ainda não é suficiente para invadir e ocupar um país de grande dimensão como a Venezuela.
Segundo Santoro, para convencer a opinião pública da necessidade da operação, o governo Trump aposta na narrativa de que existe uma organização criminosa a ser combatida. Ao mesmo tempo, a Casa Branca tem usado uma linguagem mais ligada à segurança pública do que à guerra.
“Esse é o tipo de linguagem usada quando você não planeja nenhum tipo de acordo. O governo americano tem dito que as autoridades da Venezuela são ilegítimas. Muitas vezes, o governo Trump se refere a Maduro como narcoterrorista”, afirmou.
“Hoje, o termo genérico ‘Cartel de los Soles’ mascara o fato de que o eixo Estado-tráfico de drogas é menos uma rede administrada pelos militares e políticos chavistas e mais um sistema que eles regulam”, diz o InSight Crime, fundação que estuda o crime organizado nas Américas.
🛑 Apesar da escalada recente, as relações entre EUA e Venezuela vêm se deteriorando há anos. Washington impôs sanções econômicas ao país, citando violações de direitos humanos e corrupção, além de não reconhecer o governo de Maduro como legítimo.