O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) afirmou que não há, no Brasil, alta tecnologia capaz de detectar tornados e fenômenos naturais deste tipo. A fala vem após caso no Paraná, que deixou pelo menos seis mortos.
Carlos Madeiro, colunista do UOL, na edição deste domingo, escreveu sobre o tornado que feriu 750 e matou 6, na sexta-feira à tarde (7), em Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná.
Ele narrou por que o Brasil não conseguiu (e nem deve conseguir) prever novos tornados. Note o texto.
A destruição causada pelo tornado no Sul do país expôs a fragilidade do Brasil em prever eventos em curto prazo, o que deixa cidades expostas a um risco sem aviso prévio. Em Rio Bonito do Iguaçu (PR), por exemplo, as pessoas viviam um dia normal até poucos minutos antes da chegada do tornado.
Diferentemente do que ocorre com chuvas e secas, não houve uma previsão do que viria na sexta-feira. E por que o Brasil não conseguiu alertar os moradores, mesmo que poucas horas antes, da passagem de um tornado tão devastador?
“Podemos detectar e monitorar eles usando radares de alta tecnologia e sistemas de observação, mas para isso precisamos de modelos de altíssima resolução espacial e temporal —que não temos no Brasil”, explica José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
“Prevenção de tornado é difícil até nos Estados Unidos, pois em alguns casos ele chega quase ao mesmo tempo que os alarmes dos tornados. Ou seja, teríamos que ter muitos investimentos no Brasil.”
O coordenador do Lapis (Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite), ligado à Universidade Federal de Alagoas, Humberto Barbosa, explica que o Brasil usa hoje uma previsão com base no risco meteorológico. “Mas a gente não diz qual é o risco específico, apenas aponta a região que tem potencial”, diz.
No caso de tornados, ele cita que os sistemas se desenvolvem rapidamente em função da alta umidade, dos ventos e das áreas de instabilidade. “E aí modelos meteorológicos atuais de previsão não trabalham bem. Você até tem sistemas, mas eles não são suficientes para fazer com que a gente consiga prever em menos de quatro horas.”
Na quinta-feira, véspera do tornado, o Lapis —assim como outros órgãos— chegou a emitir um alerta para o Paraná e para Santa Catarina. “Colocamos as áreas nos mapas de risco porque havia vários sistemas meteorológicos atuantes; só que a gente não sabia, nem tinha como dizer, que o risco específico seria um tornado”.
“Existem pesquisas, projetos específicos, mas não há ainda uma estrutura de nowcasting, que é o que a gente chama previsão de curto, curtíssimo prazo”, pontua.
Esse tipo de análise, diz, leva em consideração imagens de satélites, radares meteorológicos e informações e medições locais.
“A previsão de curto e curtíssimo prazo é feita em torno de duas, três horas antes do evento acontecer, quando já temos todos os ingredientes: chuva, granizo, ventos, formação de tornados”.
Com as mudanças climáticas e os eventos extremos cada vez mais comuns, Humberto defende que existe uma necessidade de se investir nesse modelo de previsão, assim como criar formas de a informação chegar às pessoas, que devem ser treinadas para que se preparem.
“Essa é uma área que falta uma estrutura operacional no país, principalmente na região Sul, principalmente entre Santa Catarina e Paraná, onde você tem a formação de tornados mais frequentes”, finaliza.